domingo, 12 de outubro de 2008




Deu em O Globo

De Elio Gaspari:


Para o bem de todos, Nosso Guia precisa aprender a ficar calado diante da crise financeira. Suas bobagens comprometem a credibilidade do país. Em setembro, falando nas ONU, ele disse o seguinte:
"Das Nações Unidas, máximo cenário multilateral, deve partir a convocação para uma resposta vigorosa às ameaças que pesam sobre nós".
Quem conhecer uma pessoa capaz de acreditar que a ONU tem capacidade, estrutura e autoridade para tratar desse assunto, ganha uma passagem de ida e volta a Cuba. Quem conhecer duas, ganha só a de ida.
Semanas depois, tratando da capotagem da Sadia e da Aracruz, que torraram R$ 2,7 bilhões em operações cambiais exóticas, Nosso Guia acusou as empresas de estarem apostando contra o real. Falso. Elas perderam dinheiro porque apostaram a favor. Mesmo que estivesse certo, não fica bem para um presidente da República o comportamento que o jornalista americano Murray Kempton atribuiu aos editorialistas:
"Depois da batalha eles vão ao campo e matam os feridos."
Admita-se que sua teoria da "marolinha" foi conversa de palanqueiro. Até porque dias depois, tratando do problema, disse que "não sabemos o seu tamanho". Releve-se a sua interpretação da geografia ao dizer que "até agora, graças a Deus, a crise americana não atravessou o Atlântico". Foi a segunda vez que Nosso Guia relacionou a travessia do Atlântico com um percurso Norte-Sul. Em geral, as pessoas associam essa travessia às viagens de Colombo (de barco) e Charles Lindbergh (de avião), no sentido Leste-Oeste (ou o contrário).
Administrando uma crise que botou a Bolsa de joelhos, meia dúzia de bancos no vermelho e o dólar a R$ 2,30, o presidente da República pode fazer tudo, menos tratá-la com olhar de marqueteiro. Foi isso que George Bush fez nos últimos 12 meses. Pagará o preço de uma vergonhosa saída da Casa Branca. Quem trata a crise como coisa pitoresca, num personagem pitoresco se transforma. Como ele mesmo já disse, a crise exige "juízo e responsabilidade". Sobretudo dele.


sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Essa é a cara da nossa política!!


Rio - Finalmente, Lula adere à candidatura de Paes


Paes diz que não se arrepende de nada do que fez

De O Globo:

O candidato a prefeito do Rio Eduardo Paes (PMDB/PTB/PP/PSL) afirmou há pouco, durante ato de apoio do PCdoB à sua candidatura, no Centro, que não se arrepende de nada que fez como deputado federal. Ele se referiu, inclusive, à atuação na CPI dos Correios. Mesmo dizendo que não se arrepende, o candidato afirmou que o tom dos debates durante a CPI muitas vezes pode ficar 'fora 'do tom da política':
- É óbvio que no calor da política, em alguns momentos, se sai do tom da política. Essas não são expressões adequadas (sobre possíveis exageros cometidos) ao debate político - afirmou o candidato.
Ele negou que tenha enviado carta ao presidente Lula - a quem chamou de 'chefe da quadrilha' - se desculpando pela atuação quando relatava a CPI, mas disse que pensou sobre o envio de carta à primeira-dama Marisa Letícia.
- Se enviei carta a alguém, a carta é pessoal - desconversou o candidato.
Durante o ato na sede do PCdoB, a candidata derrotada do partido à prefeitura, Jandira Feghali, chegou a dizer, em entrevista coletiva, que Paes havia pedido desculpas a Lula.
Paes, no entanto, disse que, na conversa que teve com o presidente, 'não houve esse clima de desculpas que a imprensa quer criar'.
- Não devo desculpas a ninguém - disse o peemedebista.


quarta-feira, 8 de outubro de 2008



Por Ricardo Noblat

Rio Grande do Norte - A recaída de Lula

O vexame pessoal de Lula nas eleições municipais do Rio Grande do Norte foi maior do que se sabia até aqui. Sabia-se que ele foi a Natal pedir votos para eleger a candidata do PT a prefeita, Fátima Bezerra. Ela perdeu no primeiro turno para Micarla, candidata do PV e de José Agripino Maia, líder do DEM no Senado, tratado por Lula como desafeto, inimigo, um sujeito que ele evita dizer o nome.
O que só agora se sabe é que Lula perdeu também em Mossoró, o segundo maior colégio eleitoral do Estado. Como está se achando, foi a Mossoró antes de voltar a Natal para participar de um comício de Fátima. Lá, dispensou de recepcioná-lo no aeroporto a prefeita Fátima Rosado, do DEM, candidata à reeleição. Era obrigação protocolar dela recepcioná-lo.
De helicóptero, voou do aeroporto para a universidade local. Discursou, mas não falou sobre política. E foi direto para o Hotel Termas, onde Larissa Rosado, do PSB, montara um estúdio para que ele gravasse uma mensagem de apoio à sua candidatura a prefeita. Gravou, bebeu bem durante a tarde, segundo testemunho de um garçon do hotel, e voou a Natal.
Ali, desfechou um duro ataque contra Agripino Maia. De cima do palanque de Fátima Bezerra, diante de mais de 10 mil pessoas, disse coisas tais como:
- Esperei muito tempo para fazer um ajuste de contas com ele [no caso, "ele" era Agripino Maia].
- Voltarei aqui em 2010 quantas vezes for necessário só para derrotá-lo.
- Se eles fossem bons estariam neste palanque.
- Ele é um político que faz política suja com discurso de madrugada.
A prefeita de Mossoró se reelegeu com 53% dos votos válidos.
Fora Natal, dos outros cinco maiores colégios eleitorais do Rio Grande do Norte (Mossoró, Parnamirim, São Gonçalo do Amarante, Macaíba e Ceará Mirim), o DEM ganhou em cinco, elegendo um prefeito, um vice, e fazendo parte da coligação vitoriosa em três.
A governadora Vilma Maia (PSB) perdeu em quatro dos cinco. E Garibaldi Alves (PMDB), presidente do Senado, em dois. Garibaldi perdeu em Natal aliado com Vilma e o PT. Ganhou aliado com Agripino Maia em Mossoró, Parnamirim e Macaíba.
Por que Lula perdeu nos dois maiores colégios eleitorais do Rio Grande do Norte? Porque quis. Porque fez política com fígado.
O deputado Ulysses Guimarães, ex-presidente do PMDB, da Câmara dos Deputados e da Assembléia Nacional Constituinte de 1988, ensinava que não se faz política com fígado.
Lula recusou o apoio de Ulysses e do PMDB ao tentar se eleger presidente da República pela primeira vez em 1989. O PMDB tem, hoje, cinco ministérios no governo dele. E 14 partidos apóiam o governo.
O velho Lula, líder sindical enfezado, o sapo barbudo como Leonel Brizola o chamou um dia, ressuscitou nas eleições municipais do Rio Grande do Norte. Deu no que deu.