domingo, 23 de agosto de 2009


O desafio de Mercadante
De Gerson Camarotti e Adriana Vasconcelos:

O recuo de última hora para permanecer no cargo e a posição errática do líder do PT, Aloizio Mercadante (SP), durante a crise do Senado só ampliaram suas dificuldades para conduzir o partido daqui para a frente. Os problemas não são pequenos: racha na bancada, estremecimento do diálogo com o presidente da Casa, José Sarney (PMDB-AP), forte rejeição do PMDB, além das divergências com o Planalto e com o PT.
Os aliados questionam sua capacidade para retomar a autoridade de líder. Mercadante, em seu discurso, reiterou suas diferenças com a direção do PT e com o governo. E admitiu que cometeu erros que poderão inviabilizar sua interlocução com Sarney e com líder do PMDB, Renan Calheiros (AL).
- Eu perdi uma certa condição de interlocução política nesta Casa, por exemplo com o presidente Sarney. É evidente! É muito mais difícil ser líder nessas condições, depois de uma crise como essa - discursou.
Os poucos senadores que o ouviram no plenário consideraram um erro a permanência no cargo. Para Cristovam Buarque (PDT-DF), a sensação que ficou do discurso de Mercadante é de houve um "chamado de Deus", no caso, o presidente Lula.

Ah! Se fosse verdade!!




Deu na Veja

Carlos Augusto Montenegro é um dos mais experientes analistas do cenário político nacional. Presidente do Ibope, empresa que virou sinônimo de pesquisa de opinião pública no Brasil, ele acompanhou com lupa todas as eleições realizadas no país desde a volta à democracia, em 1985.

Agora, faltando pouco mais de um ano para a sucessão presidencial, Montenegro faz uma análise que o consagrará se acertar. Se errar? Bem, dará às pessoas o direito de igualarem seu ofício às brumas da especulação.

Em entrevista ao editor Alexandre Oltramari, Montenegro aposta que o governo, apesar da imensa popularidade do presidente Lula, não conseguirá fazer o sucessor – no caso, a ministra Dilma Rousseff. Também afirma que o PT está em processo de decomposição.

O que os acontecimentos da semana passada revelaram sobre o PT?

Que o partido deu um passo a mais na direção de seu fim. O PT passou vinte anos dizendo que era sério, que era ético, que trabalhava pelo Brasil de uma maneira diferente dos outros partidos. O mensalão minou todo o apelo que o PT havia acumulado em sua história. Ali acabou o diferencial. Ali acabou o charme. Todas as suas lideranças foram destruí-das. Estrelas como José Dirceu, Luiz Gushiken e Antonio Palocci se apagaram. Eu não diria que o partido está extinto, mas está caminhando para isso.

Mas por trás do apoio ao PMDB e ao senador Sarney não está exatamente um projeto de poder do PT?

É um projeto de poder do presidente Lula.
O desempenho eleitoral do PT depois do mensalão foi um vexame. Em 2006, com exceção da Bahia, o partido só venceu em estados inexpressivos. Nas eleições municipais de 2008, entre as 100 maiores cidades, perdeu em quase todas. Lula sempre foi contra a reeleição e só resolveu disputá-la para tentar salvar o PT. Sua reeleição foi um plebiscito para decidir se deveria continuar governando mais quatro anos ou não. Mas tudo indica que agora ele não fará o sucessor justamente por causa da mesmice na qual o PT mergulhou.

Ao contrário do que muita gente acredita, o senhor aposta que Lula, mesmo com toda a popularidade, não conseguirá eleger o sucessor.

Uma coisa é ele participar diretamente de uma eleição. Outra, bem diferente, é tentar transferir popularidade a alguém. Sem o surgimento de novas lideranças no PT e com a derrocada de seus principais quadros, o presidente se empenhou em criar um candidato, que é a Dilma Rousseff. Mas isso ocorreu de maneira muito artificial. Ela nunca disputou uma eleição, não tem carisma, jogo de cintura nem simpatia. Aliás, carisma não se ensina. É intransferível. "Mãe do PAC", convenhamos, não é sequer uma boa sacada. As pessoas não entendem o que isso significa. Era melhor ter chamado a Dilma de "filha do Lula".

Porém já existem pesquisas que colocam Dilma Rousseff na casa dos 20% das intenções de voto.

A Dilma, em qualquer situação, teria 1% dos votos. Com o apoio de Lula, seu índice sobe para esse patamar já demonstrado pelas pesquisas, entre 15% e 20%. Esse talvez seja o teto dela. A transferência de votos ocorre apenas no eleitorado mais humilde. Mas isso não vai decidir a eleição. Foi-se o tempo em que um líder muito popular elegia um poste. Isso acontecia quando não havia reeleição. Os eleitores achavam que quatro anos era pouco e queriam mais. Aí votavam em quem o governante bem avaliado indicava, esperando mais quatro anos de sucesso.

Diante do quadro político que se desenha, quais são então as possibilidades dos candidatos anunciados até o momento?

Faltando um ano para as eleições, o governador de São Paulo, José Serra, lidera as pesquisas. Ele tem cerca de 40% das intenções de voto. Em 1998, também faltando um ano para a eleição, o líder de então, Fernando Henrique Cardoso, ganhou. Em 2002, também um ano antes, Lula liderava – e venceu. O mesmo aconteceu em 2006. Isso, claro, não é uma regra, mas certamente uma tendência. Um candidato que foi deputado constituinte, senador, ministro duas vezes, prefeito da maior cidade do país e governador do maior colégio eleitoral é naturalmente favorito.
Ele pode cair? Pode. Mas pode subir também.

A entrada em cena de Marina Silva, que deixou o PT para disputar a eleição presidencial pelo PV, altera o quadro sucessório?

A Marina é a pessoa cuja história pessoal mais se assemelha à do Lula. É humilde, foi agricultora, trabalhou como empregada doméstica, tem carisma, história política e já enfrentou as urnas. Além disso, já estava preocupada com o meio ambiente muito antes de o tema entrar na agenda política. Ela dificilmente ganha a eleição, mas tem força para mudar o cenário político. Ser mulher, carismática e petista histórica é sem dúvida mais um golpe na candidatura de Dilma.

Na hora de votar, o eleitor leva em consideração o perfil ético do candidato?

Uma pesquisa do Ibope constatou que 70% dos entrevistados admitem já ter cometido algum tipo de prática antiética e 75 % deles afirmaram que cometeriam algum tipo de corrupção política caso tivessem oportunidade. Isso, obviamente, acaba criando um certo grau de tolerância com o que se faz de errado. Talvez esteja aí uma explicação para o fato de alguns políticos do PT e outros personagens muito conhecidos ainda não terem sido definitivamente sepultados.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Duas Caras


Deu na Folha de S. Paulo

Mentira tem perna curta

De Eliane Cantanhêde:

A Casa Civil da Presidência é um local fantástico, onde tudo acontece, mas nada acontece. Fiquemos no governo Lula, com José Dirceu e Dilma Rousseff.
O braço direito de Dirceu, Waldomiro Diniz, saiu da oposição para a situação e da condição de acusador para a de acusado ao pedir propina para banqueiro de bicho. Mas o chefe Dirceu não sabia de nada.
Quando estourou o mensalão, ele também disse que não sabia de nada. Até vir a público sua agenda no Planalto, mostrando reuniões curiosas de presidentes de empresas e de bancos com presidente e tesoureiro de partido político.
Agora, esse disse-que-disse entre Dilma e Lina Vieira, ex-chefe da Receita, sobre um encontro sigiloso das duas e um suposto pedido para a Receita "agilizar" (seria enterrar?) processos contra o filho de Sarney. Lina insiste que houve o encontro, e a sua então chefe de gabinete corrobora a versão. Mas Dilma diz que não sabe nada disso.
É a palavra de uma contra outra, mas circunstâncias e precedentes favorecem a versão de Lina Vieira.
Primeiro, porque ela diz que não aceitou a ordem, sugestão, ou seja lá o que for -o que, pelo menos, dá sentido à sua súbita demissão.
Segundo, porque Dilma já passou por isso. O primeiro presidente da Anac, Milton Zuanazzi, vivia no Planalto e não dava um passo sem consultar a ministra. O compadre de Lula, metido com aviação, também visitava bastante a Casa Civil.
Mas Dilma jurou que não tinha nada a ver com a salvação da "insalvável" Varig e não sabia de nada. E, quando Erenice Guerra (de alguma forma a sua Waldomiro) se enroscou com o dossiê, ou "banco de dados", contra FHC e sua mulher, Dilma também não sabia.
Diante de tantas crises de memória, só há uma solução: aos fatos! À agenda e às fitas do entra-e-sai do Planalto. Alguém está mentindo. E mentira, como a agenda de Dirceu confirmou, tem perna curta.
Ah! Quem deu a agenda de Dirceu para a CPI foi sua sucessora, Dilma.
Enviado por Ricardo Noblat

Comentário

Piada!
A oposição propõe uma acareação entre Dilma Roousseff, chefe da Casa Civil, e Lina Vieira, ex-secretária da Receita Federal.
Lina disse que se reuniu com Dilma e ouviu dela um pedido para apressar as investigações em torno dos negócios suspeitos de Fernando, filho do senador José Sarney (PMDB-AP).
Dilma nega o encontro e o pedido.
Nunca que o governo permitirá a acareação. E a oposição não tem votos suficientes para forçá-la.
Se puder, o governo dará um jeito para que Lina não deponha na Comissão da Constituição e Justiça do Senado.
Coitada da Lina. Sempre foi petista. Deve estar sofrendo uma brutal pressão para não ir depor.
Não me espantaria que não fosse.

domingo, 9 de agosto de 2009

Lula = Sarney



Cada político tem da Polícia Federal a inquisição que merece. No caso de Sarney, o Santo Ofício policial parece hesitar em recorrer à fogueira.

Na última quarta (5), em seu discurso de autodefesa, Sarney tentou tomar distância de Zuleido Veras, o dono da Gautama.

O senador disse que não se avistou com o personagem mais do que um par de vezes. Se tanto.

Outrora um empreiteiro festejado, Zuleido caiu em desgraça no ano da graça de 2007. Seu prestígio foi lanhado pela Operação Navalha, da PF.

O caso produziu algumas consequências.

Entre elas a demissão do ministro Silas Rondeau, um amigo que Sarney acomodara na pasta de Minas e Energia.

O inquérito prossegue, contudo. Já lá se vão dois anos. O governo Lula já dobra a última curva, entra na reta final. E nada das conclusões.

Quem folheia os autos fica impressionado com o cheiro de PMDB que exala das folhas.

Zuleido fez fortuna tocando obras públicas. Entre elas o aeroporto de Macapá, a capital do Amapá, Estado que o ex-maranhense Sarney adotou como seu.

O empreendimento foi licitado pela Infraero em 2004. Deu-se depois de um pedido de Sarney a Lula.

As planilhas de custos estão apinhadas de suspeitas. A começar por um suposto superfaturamento que roça a casa dos R$ 50 milhões.

Vasculha daqui, escarafuncha dali, a PF logrou reunir um feixe de indícios que impressiona.

São diálogos telefônicos, contratos, depósitos bancários e até uma planilha de rateio de verbas com aparência de lista de propinas.

Um dos papéis recolhidas pela PF contém lista contribuições de campanha eleitoral feitas pela Gautama de Zuleido no Amapá de Sarney. Coisa de R$ 500 mil.

O documento sugere que o rateio foi feito seguindo as orientações de um personagem identificado por um par de letras: “PR”.

Para a PF, são as iniciais de presidente. Em seus relatórios, a polícia dá nome ao boi: José Sarney.

Personagem identificado como José Ricardo, um lobista da Gautama, chegava a despachar no gabinete de Sarney, informam os escritos da PF.

Chama-se Ernane Sarney a pessoa encarregada de realizar a cobrança dos pagamentos. Vem a ser irmão de José Sarney.

Há no inquérito a transcrição de um diálogo travado entre Ernane Sarney e uma pessoa que a PF identifica como tesoureiro da Gautama. A certa altura, o irmão de Sarney soa impaciente:

"Vocês estão me enrolando. Já não estava tudo na mão? Eu tô com a corda no pescoço aqui, rapaz, o doutor também tá com a corda no pescoço".

A PF manuseou a cópia de um depósito de Zuleiro para Ernane: R$ 30 mil.

Apalparam-se também depósitos para assessores de expoentes da bancada do PMDB no Senado: Renan Calheiros, Valdir Raupp e... Roseana Sarney.

As mãos dos investigadores tocaram também anotações que sugerem repasses de R$ 512 mil a Romero Jucá, o líder de Lula no Senado.

Senadores só podem ser investigados mediante autorização expressa do STF. Algo que precisa ser solicitado pelo procurador-geral da República.

Na semana passada, referindo-se especificamente a Sarney, o procurador-geral Roberto Gurgel disse que não há vestígio de pedido relacionado a Sarney.

Uma informação que o pseudopresidente do Senado cuidou de injetar em seu discurso. Assim, um gigantesco e roliço ponto de interrogação bóia na atmosfera de Brasília:

O que diabos estão esperando a PF e os procuradores de primeiro grau que acompanham as apurações para fazer a solicitação?

Como se fosse pouco, os repórteres Leonardo Souza e Andreza Matais informam que a ministra-candidata Dilma Rousseff tentou cavar na Receita o fim de um calvário da família Sarney.

As empresas dos Sarney encontram-se sob investigação do fisco. Recém-demitida, a ex-leoa Lina Maria Vieira contou aos repórteres que Dilma lhe pedira
pressa.

Escrito por Josias de Souza: http://josiasdesouza.folha.blog.uol.com.br/