quarta-feira, 25 de novembro de 2009

O Filho do Dono






No instante em que vai às telas ‘Lula, o Filho do Brasil’, chega às páginas um enredo enviesado. Filmado, poderia chamar-se ‘Lulinha, o filho do filho do Brasil’.

No longa-metragem oficial, mostra-se a saga do menino que saltou da miséria nordestina para o triunfo brasileiro.

No curta-metragem não rodado, uma passagem da rotina do menino que emergiu do parentesco ilustre para a fortuna pessoal.

Deve-se à repórter Kátia Brasil a iluminação do
enredo paralelo. Ela conta algo que se passou em 9 de outubro.

Envolve o itinerário de um jato da FAB, um Boeing 737. A aeronave estava a dez minutos de aterissar em Brasília.

Trazia militares a serviço da Aeronáutica. Vinham da cidade paulista de Gavião Peixoto. Súbito, o comandante recebeu uma ordem.

Deveria retornar a São Paulo. Recolheria, a pedido da Presidência da República, um lote de passageiros. Entre eles o presidente do BC, Henrique Meirelles.

O Boeing deu meia-volta. Desceu no aeroporto de Guarulhos às 19h. Foi reabastecido. De repente, nova ordem.

Os novos passageiros embarcariam em Congonhas, não em Guarulhos. Às 20h30, outra decolagem.

O pouso em Congonhas teve de ser retardado. De tanques cheios, o comandante não poderia pousar em Congonhas.

Viu-se compelido a voar a esmo por uma hora. Desperdiçado o combustível, enquadrou-se nas exigências de Congonhas. Às 21h30, desceu.

Os passageiros fardados foram ao fundo da aeronave. As poltronas da frente foram liberadas para os novos passageiros.

Embarcaram, além de Henrique Meirelles, outras 16 pessoas –Fábio Luís Lula da Silva, o Lulinha, e 15 acompanhantes dele.

Procurado, Henrique Meirelles mandou dizer, por meio da assessoria: de fato, requisitara o avião.

Mas só na hora do embarque soube que, "por solicitação da Presidência", Lulinha e mais 15 "aproveitariam o vôo da aeronave colocada à disposição do BC".

Ouvido, o Planalto informou: Lulinha e seus acompanhantes eram convidados de Lula.

"É normal o presidente da República convidar pessoas para se encontrar com ele em Brasília e oferecer transporte pelas aeronaves que servem à Presidência".

Lula tem algo como uma centena de parentes. No geral, os Silva permaneceram longe do Estado. Mantiveram o padrão de vida modesto.

Nesse grupo, Lulinha é exceção. O primeiro-filho é sócio da Gamecorp, uma empresa de vídeo brindada com um aporte milionário da Telemar, em 2005.

A operadora de telefonia (45% do capital pertencente ao BNDES e a fundos de pensão de estatais) borrifou R$ 5 milhões na caixa registradora da firma de Lulinha.

Empresário próspero, Lulinha, o filho do filho do Brasil, não precisaria bulir nas arcas da Viúva para voar de São Paulo para Brasília.

Ao embarcar no Boeing da veneranda e desprotegida senhora, naquela fatídica noite de 9 de outubro, o primeiro-filho prestou um serviço ao pai.

Lulinha mostrou ao Lulão os riscos da presidência imperial. O que diria Lula FHC mandasse asas oficiais buscarem um filho em São Paulo nas mesmas condições?

Talvez dissesse algo assim: "Num país em que brasileiros morrem na maca por falta de atendimento nos hospitais públicos...”

“...É inaceitável que o filho do príncipe e seus acompanhantes mobilizem um Boeing custeado com verbas dos patrícios em dia com os seus impostos”.

O que diabos foi fazer Lulinha em Brasília? A assessoria de Lulão diz que não fornece informações sobre familiares do filho do Brasil.

E quanto aos nomes dos acompanhantes? O Planalto e o BC não forneceram a lista. A FAB informou que não dispõe dos nomes.

De um presidente espera-se que dê exemplos de boa conduta aos súditos que lhe garantem os proventos, a geladeira cheia, o carro na garagem e o avião no hangar.

Nunca antes na história desse país um mandatário demonstrara tanto descaso com as vulgaridades que grassam ao seu redor. Pena.

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