quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

PetroNews


O excesso de esperteza intoxicou a Petrobras.

De petroleira, a estatal converteu-se em agência de publicidade. É, hoje, a principal provedora de “boas notícias” do Palácio do Planalto.
O governo está em apuros? O noticiário azedou? Acalme-se. Seus problemas acabaram! A Petro-Tabajara News tem uma novidade para pendurar nas manchetes. Tupi já deu pro gasto? Recorra-se a Júpiter.

Em novembro do ano passado, Lula estava acossado pela crise do gás. A Petrobras saiu-se com Tupi, um campo capaz de tonificar as reservas nacionais de óleo em 50%. Nos dias seguintes, viriam os detalhes.

Nada pra já, o país saberia nos dias seguintes. A Petrobras extraíra amostras de petróleo de boa qualidade em alto mar, a 7.000 metros de profundidade, em reserva distante da costa de Santos 180 km. Um feito notável.

Mas a viabilidade comercial do empreendimento depende de estudos adicionais e novos investimentos. Dinheiro em volume ainda não esclarecido. Sabe-se apenas que não será pouca grana. Longe disso.

Com alguma sorte, o país conhecerá a extensão real da jazida de Tupi num par de anos. Com mais sorte, saberá, em quatro ou cinco anos, se a extração de óleo em valores comerciais é ou não viável. Coisa para 2013 ou 2014.

Agora, com Edison Lobão atravessado na traquéia dos brasileiros e o fantasma da crise energética a sacudir o lençol sobre o Planalto, a Petrobras traz à tona o gás de
Júpiter. E o faz, de novo, em timbre grandiloqüente.

Vizinha de Tupi, Júpiter pode tornar o Brasil auto-suficiente na produção de gás natural, informa a estatal. Quando? Daqui a seis anos. O gás está situado abaixo da camada de sal, sob rochas, a 5.252 metros de profundidade e a 290 km da costa. Ou seja: mais estudos e novos investimentos.

O Brasil poderá dar uma banana para a Bolívia? Impossível dizer a essa altura. A exemplo do petróleo de Tupi, o tempo dirá se o gás de Júpiter chegará ao continente em valores comerciais.

A petrolífera brasileira foi a primeira companhia a dominar a tecnologia de prospecção em águas profundas (2.000 metros). Dá gosto saber que começa a equipar-se também para a exploração em superprofundidade (até 7.000 metros).

A estatal não deveria permitir que seus êxitos sejam intoxicados pela esperteza política. O excesso de marquetagem retira do espetáculo o prazer que o brasileiro tem de festejar as poucas coisas boas que lhe chegam.

Escrito por Josias de Souza / http://josiasdesouza.folha.blog.uol.com.br/

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