domingo, 9 de agosto de 2009

Lula = Sarney



Cada político tem da Polícia Federal a inquisição que merece. No caso de Sarney, o Santo Ofício policial parece hesitar em recorrer à fogueira.

Na última quarta (5), em seu discurso de autodefesa, Sarney tentou tomar distância de Zuleido Veras, o dono da Gautama.

O senador disse que não se avistou com o personagem mais do que um par de vezes. Se tanto.

Outrora um empreiteiro festejado, Zuleido caiu em desgraça no ano da graça de 2007. Seu prestígio foi lanhado pela Operação Navalha, da PF.

O caso produziu algumas consequências.

Entre elas a demissão do ministro Silas Rondeau, um amigo que Sarney acomodara na pasta de Minas e Energia.

O inquérito prossegue, contudo. Já lá se vão dois anos. O governo Lula já dobra a última curva, entra na reta final. E nada das conclusões.

Quem folheia os autos fica impressionado com o cheiro de PMDB que exala das folhas.

Zuleido fez fortuna tocando obras públicas. Entre elas o aeroporto de Macapá, a capital do Amapá, Estado que o ex-maranhense Sarney adotou como seu.

O empreendimento foi licitado pela Infraero em 2004. Deu-se depois de um pedido de Sarney a Lula.

As planilhas de custos estão apinhadas de suspeitas. A começar por um suposto superfaturamento que roça a casa dos R$ 50 milhões.

Vasculha daqui, escarafuncha dali, a PF logrou reunir um feixe de indícios que impressiona.

São diálogos telefônicos, contratos, depósitos bancários e até uma planilha de rateio de verbas com aparência de lista de propinas.

Um dos papéis recolhidas pela PF contém lista contribuições de campanha eleitoral feitas pela Gautama de Zuleido no Amapá de Sarney. Coisa de R$ 500 mil.

O documento sugere que o rateio foi feito seguindo as orientações de um personagem identificado por um par de letras: “PR”.

Para a PF, são as iniciais de presidente. Em seus relatórios, a polícia dá nome ao boi: José Sarney.

Personagem identificado como José Ricardo, um lobista da Gautama, chegava a despachar no gabinete de Sarney, informam os escritos da PF.

Chama-se Ernane Sarney a pessoa encarregada de realizar a cobrança dos pagamentos. Vem a ser irmão de José Sarney.

Há no inquérito a transcrição de um diálogo travado entre Ernane Sarney e uma pessoa que a PF identifica como tesoureiro da Gautama. A certa altura, o irmão de Sarney soa impaciente:

"Vocês estão me enrolando. Já não estava tudo na mão? Eu tô com a corda no pescoço aqui, rapaz, o doutor também tá com a corda no pescoço".

A PF manuseou a cópia de um depósito de Zuleiro para Ernane: R$ 30 mil.

Apalparam-se também depósitos para assessores de expoentes da bancada do PMDB no Senado: Renan Calheiros, Valdir Raupp e... Roseana Sarney.

As mãos dos investigadores tocaram também anotações que sugerem repasses de R$ 512 mil a Romero Jucá, o líder de Lula no Senado.

Senadores só podem ser investigados mediante autorização expressa do STF. Algo que precisa ser solicitado pelo procurador-geral da República.

Na semana passada, referindo-se especificamente a Sarney, o procurador-geral Roberto Gurgel disse que não há vestígio de pedido relacionado a Sarney.

Uma informação que o pseudopresidente do Senado cuidou de injetar em seu discurso. Assim, um gigantesco e roliço ponto de interrogação bóia na atmosfera de Brasília:

O que diabos estão esperando a PF e os procuradores de primeiro grau que acompanham as apurações para fazer a solicitação?

Como se fosse pouco, os repórteres Leonardo Souza e Andreza Matais informam que a ministra-candidata Dilma Rousseff tentou cavar na Receita o fim de um calvário da família Sarney.

As empresas dos Sarney encontram-se sob investigação do fisco. Recém-demitida, a ex-leoa Lina Maria Vieira contou aos repórteres que Dilma lhe pedira
pressa.

Escrito por Josias de Souza: http://josiasdesouza.folha.blog.uol.com.br/

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